Além do cabernet e merlot: conheça 30 uvas que fazem vinhos no Brasil
Os brasileiros podem estranhar o sabor do vinho nacional porque estão acostumados com vinhos sul-americanos, e os nacionais se assemelham aos europeus
Redondinhas ou mais ovais, roxas, verdes ou bordôs, existem mais de 10 mil variedades e clones de uvas no mundo. Do total, mais de 1 mil são usadas na fabricação de vinhos. No entanto, muitas são desconhecidas para os novos degustadores acostumadas às famosas cabernet sauvignon e merlot. O Terra visitou o Parque Temático Dal Pizzol, na Serra Gaúcha, onde são cultivados 164 tipos de uvas de 22 países, para descobrir mais variedades que dão origem a vinhos no Brasil.
O primeiro passo ao se falar sobre a fruta é entender que elas são divididas em dois grandes grupos no País: as híbridas ou uvas de mesa – norte-americanas mais usadas para sucos e garrafões de vinhos, como a niágara e seibel – e as viníferas – importadas da Europa e destinadas à vinificação fina. No Brasil, as norte-americanas ainda tomam conta de 80% da produção, mas a tendência é que a situação se inverta, de acordo com o enólogo Dirceu Scottá.
Os vinhos finos brasileiros têm sabor e aroma mais similares aos europeus do que aos produzidos no Chile e Argentina, por exemplo, explicou o enólogo. Esta característica dificulta a popularização dos rótulos nacionais, uma vez que os consumidores estão acostumados com os vinhos dos países sul-americanos, segundo Scottá. Um cabernet sauvignon chileno é bastante diferente de um brasileiro. “A mesma variedade pode apresentar vinhos distintos por causa da região”, disse o enólogo.
Qual vinho escolher?
Mas, afinal, o que determina um vinho leve, encorpado, ácido ou mais adocicado? O enólogo Edegar Argenta respondeu que é o “processo de produção”. “Cada variedade de uva tem um tempo de maturação. As que aguentam mais tempo no vinhedo conseguem atingir um teor maior de açúcar e consequentemente dão origem a vinhos mais alcoólicos, como o merlot, que consegue 14 graus naturais. Já a alicant bouschet não passa dos 10 graus, é mais ácida e, por isso, usada mais em assemblages (vinho que mistura mais de uma variedade de uva)”, explicou Scottá.
Um vinho com mais acidez – proveniente de uvas brancas ou que maturam com pouco açúcar natural – são mais refrescantes e leves, Geralmente estas uvas são as bases para espumantes. Já os feitos com uvas de maturação longa são mais estruturados, segundo os enólogos. Depois disso, vem o tempo de fermentação no tanque de inox, se o vinho passa por barrica de carvalho ou não e por quanto tempo, e quanto tempo ele fica envelhecendo na garrafa.
A fermentação é o processo de transformação do açúcar em álcool. A etapa da barrica de carvalho é quando o vinho ganha aromas como baunilha, chocolate, café, entre outros, com cuidado para evitar a oxidação. Depois disso, vem o tempo na garrafa. Alguns ficam meses, enquanto outros chegam a 50 anos de guarda, varia de acordo com o tipo de vinho. Os vinhos mais jovens tendem a ser mais ácidos e refrescantes, enquanto os mais velhos mais encorpados. A quantidade de taninos – polifenol de origem vegetal que dá a sensação na boca semelhante a de comer uma fruta antes de amadurecer – também altera o sabor.
Ao escolher, o conselho dos enólogos é perguntar se o produto está pronto para ser consumido ou deve ser guardado e checar se a garrafa está armazenada da forma correta: deitada, com a rolha umidificada para não ocorrer oxidação.
Tipos
Malvasia Nera di Brindisi: é uma variedade de origem grega que dá origem a vinhos tintos de alto teor alcoólico e acidez não muito elevada. O vinho é encorpado, já que a Malvasia tem maturação longa.
Bonarda: é uma uva europeia antes usada para vinhos de mesa. Ela alcança um ciclo longo de amadurecimento, no entanto precisa de muito calor para chegar ao ponto ideal. A Bonarda é mais usada em cortes com outras uvas.
Brachetto: da Itália, a uva tinta consegue alto nível de açúcar natural e é bastante usada na produção de espumantes.
Brunello di Montaltino: a uva é natural da região Toscana, na Itália, e dá origem a vinhos estruturados, com sabor marcante e de alta longevidade. É considerado um vinho de guarda e, se bem armazenado, dura mais de duas décadas.
Gropello: nativa da Itália, ela produz vinhos leves e com aromas de fruta. Ela é usada em roses e em assemblages, mas também faz vinhos próprios.
Incrocio Manzoni: nativa da Itália, é uma uva branca usada em assemblages de vinhos brancos e espumantes. Costuma ser leve e refrescante.
Lambrusco Salamino: é uma uva italiana usada no Brasil para produzir vinhos frisantes, suaves de baixo teor alcoólico e secos jovens.
Montepulciano: é uma uva italiana que dá origem tanto a vinhos jovens como envelhecidos. Os vinhos feitos com essa uva costumam ter aroma de frutas e baixo teor alcoólico.
Sangiovese: bastante comum na região central da Itália, a uva dá origem a vinhos com acidez notável, estruturados e com aroma de frutas. Geralmente, é usada em assemblages.
Grillo: italiana, a uva dá origem a vinhos brancos bastante aromáticos e é usada tanto em assemblages como em varietais.
Alicant Bouchet: é uma uva de origem francesa usada em assemblages com outras variedades. Ela tem grande concentração de taninos e alta capacidade de envelhecimento.
Malvasia Bianca Lunga: francesa, esta uva branca origina vinhos de baixo teor alcoólico e adocicados. Ela é usada em varietal e também em assemblages, principalmente em espumantes.
Malbec: a uva exige bastante cuidados para a produção no Brasil e se adapta melhor ao clima Argentino. Francesa, ela dá origem a vinhos encorpados e de alto teor alcoólico.
Durif: a uva tinta francesa não é muito comum no Brasil e produz vinhos fortes, estruturados, com suporte para envelhecimento e presença de taninos.
Caladoc: a uva tinta francesa dá origem a vinhos aromáticos e com a presença forte de taninos na boca. Ela surgiu do cruzamento entre a grenache noir e a malbec.
Pinot Gris: apesar da coloração rosada, a uva francesa é usada na produção de vinhos brancos. Geralmente, o vinho apresenta coloração mais escura que os demais brancos, é leve e tem sabor frutado.
Pinot Blanc: é clone da pinot gris e origina vinhos com aroma leve e sabor frutado. É usada bastante em assemblages e em espumantes.
Tempranillo: uva espanhola de casca grossa, é bastante resistente, amadurece rápido e contem quantidade significativa de taninos. Os vinhos com tempranillo são equilibrados, com aroma frutado e podem ser varietais ou assemblages.
Shyraz: originada na Pérsia, ela é cultivada na França há muitos anos e é uma das variedades mais plantadas no mundo. É uma uva sensível de difícil cultivo. O vinho de Shyraz pe característico pelo aroma e buquê.
Egiodola: francesa, é uma uva resistente e de maturação precoce em comparação com as demais tintas. A egiodola é tânica, tem pouca acidez e é geralmente usada em cortes com outras tintas, mas também dá origem a varietais.
Moscato: apesar do nome, ainda não há comprovação de que a variedade seja italiana. A uva se adaptou bem às condições do Brasil, tem alta fertilidade, mas também é suscetível à podridão. Por isso, é colhida cedo, com baixo teor de açúcar e acidez elevada. É geralmente usada em vinhos espumantes, suaves e com baixo teor alcoólico.
Pinotage: a uva foi originada de um cruzamento entre a pinot noir e cinsaut feito na África do Sul. Ela é produtiva, resistente e consegue alcançar alto teor de açúcar na maturação. Origina vinhos frutados, que devem ser consumidos jovens, e espumantes.
Arinto: uva branca portuguesa, ela é usada com frequência na produção de espumantes. Tem boa acidez e aroma leve.
Fernão Pires: portuguesa, a uva branca tem evolução rápida e pouca acidez. Ela produz vinhos frutados e com estrutura, principalmente espumantes.
Cabernet Franc: é uma variedade francesa da região de Bordeaux, com maturação longa e bastante produtiva. Origina vinhos para serem consumidos ainda jovens. Em anos menos chuvosos na época de maturação, produz vinhos encorpados e com ganho de qualidade no envelhecimento.
Touriga Nacional: de Portugal, a uva produz vinhos com sabor marcante, aromas florais, cor violeta, sabor frutado e tânico. É comumente usada para varietais, mas também produz assemblages.
Castelão: uva portuguesa, ela dá origem a vinhos aromáticos, alcoólicos e com boas condições para o envelhecimento.
Prosecco: a uva branca italiana ficou tão famosa por produzir espumantes que seu nome foi colocado ao produto. Ela dá origem a vinhos leves, refrescantes e com baixo teor alcoólico.
Cabernet Sauvignon: é uma antiga variedade da região de Bordeaux, na França. Produz vinhos varietais que podem adquirir qualidade com alguns anos de envelhecimento, com coloração forte, ricos em taninos e aromas.
Merlot: francesa, esta uva é uma das mais plantadas no mundo, junto com a cabernet sauvignon. Ela consegue alto teor de açúcar natural e origina vinhos com sabor marcante e leve ao mesmo tempo.
Gewurztraminer: originária da França, ela produz vinhos brancos picantes, aromáticos e com sabor marcante.
Marselan: cruzamento da cabernet sauvignon e greenache, a uva francesa produz vinhos com aromas intensos, taninos macios, bem estruturado e apto para o envelhecimento.
O Terra viajou a convite da Aprovale e Apromontes.