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De açaí a cerveja, autor cria guia para combater a ressaca

29 nov 2012 - 11h41
(atualizado às 12h40)
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O corpo não reage, a boca seca, a cabeça dói e a consciência pesa. É assim que a maioria das pessoas se sente em um dia de ressaca. Já o documentarista Pedro Asbeg prefere ir para a cozinha, preparar um bom prato de espaguete com molho vermelho e curtir este momento com bom humor – dependendo do estado físico, até acompanhado de uma cerveja gelada.

Pedro Asbeg dá dicas para quem quer curar a ressaca com bom humor e de forma apetitosa - com pratos preparados em casa, ou no restaurante mais próximo, onde quer que você esteja
Pedro Asbeg dá dicas para quem quer curar a ressaca com bom humor e de forma apetitosa - com pratos preparados em casa, ou no restaurante mais próximo, onde quer que você esteja
Foto: Divulgação

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Na noite desta quinta-feira (29), ele lança o livro Beber, Comer, Sobreviver – Cozinhando de Ressaca. O evento, claro, acontece em um bar, no Rio de Janeiro. Pedro também é autor de outros dois livros, Como Impressionar Sem Fazer Esforço, lançado em 2000, que traz sugestões simples com um toque de requinte; e Bonito, Barato e Gostoso, lançado em 2006, com receitas que reaproveitam alimentos.

A paixão pela cozinha começou cedo, quando morou em Londres na época da faculdade e descobriu que a comida unia as pessoas. O prazer de beber também vem dessa mesma época. “Gosto de beber e acho um esporte muito agradável”, conta. Depois de um porre homérico em Barcelona ao lado de amigas, em busca de petiscos que curassem a reação do corpo ao excesso de álcool, ele resolveu juntar as duas coisas – oferecer receitas que ele mesmo pratica na sua cozinha para quem busca a tão almejada cura da ressaca.

Além de depoimentos de personalidades como os atores Malvino Salvador, José de Abreu e o cineasta Walter Carvalho, que contam histórias pessoais e compartilham dicas neste sentido, ele dá um roteiro de vários lugares do Brasil e do mundo que oferecem pratos milagrosos para estes momentos.

Mas o forte mesmo do livro são as receitas, indicadas tanto para quem tem a coragem de encarar o fogão em busca de pratos “raçudos”, como ele mesmo descreve; até aos que não detêm tantas habilidades e preferem as opções menos técnicas, como um suco de tomate ou bife à cavalo. As dicas estão divididas em capítulos divertidos, como o “Quero minha mãe” e “O sol há de brilhar mais uma vez”.

Ele ainda dá um “dicionário” de alimentos que ajudam nessa hora, que você pode encontrar ao final da matéria. Para isso, ele contou com a consultoria da nutricionista Andressa Jasmin Edde. “Ela me ajudou a tirar o amendoim e a Coca-Cola da lista e inserir  o brócolis e a beterraba”, brincou. Leia a seguir a entrevista que Pedro concedeu com exclusividade ao Terra.

Terra: Você é documentarista. De onde surgiu a paixão por culinária?

Pedro Asberg:

Eu comecei a cozinhar quando tinha 15 anos, fazendo coisas simples. Depois quando comecei a morar sozinho comecei a me arriscar um pouco mais e perceber que eu realmente gostava de cozinhar e oferecer a comida para os amigos, a comida aproxima as pessoas. Durante a faculdade, morei em Londres e a gente se juntava com muita regularidade. Era legal porque eram pessoas do mundo todo, então tinha uma brincadeira de preparar especialidades locais.

Terra: Foi dessa época que vieram suas referências na culinária?

P.A.:

Na verdade acho que minhas referências vieram um pouco depois, quando eu tinha mais cabeça, tempo e grana para pesquisar e sair para jantar em lugares mais legais. A Internet também facilitou muito a encontrar receitas tailandesas, vietnamitas, por exemplo. Comecei a cozinhar cada vez mais e arriscar mais, e isso tem a ver com o estímulo, criatividade e segurança.

Terra: De onde surgiu a ideia de fazer um livro sobre isso?

P.A.:

Eu estava em Barcelona com amigas e tinha tomado um mega porre na noite anterior. Fomos nos arrastando até um restaurante e começamos a comer petiscos e coisas fritas. Aí pensei: a gente tem esse hábito, de acordar de ressaca e querer comer. E aí veio a ideia. Comecei a escrever em Barcelona mesmo. Escrevi em terminei em dois anos. Nasceu de uma ressaca violenta mesmo (rindo).

Terra: As receitas que você indica no livro são criações suas? Todas foram testadas em um dia de ressaca?

P.A.: Eu parti de receitas que já existem e eu fui adaptando, eu mesmo decidindo quantidades e ingredientes. Não as testei de ressaca, porque reuni todas as receitas do livro e em duas semanas fiz todas de uma vez. E depois fiz de novo para ver se estava condizente com o tempo, com o sabor. É possível sim cozinhar de ressaca, mas cozinhar dez pratos por dia não dá! (rindo)

Terra: Qual é o seu perfil na cozinha – gosta mais de criar coisas ou é bom também em seguir receitas?

P.A.:

Eu raramente sigo receita, e raramente repito. Gosto muito de inventar, e o que mais faço quando não conheço é dar uma lida em três ou quatro métodos de preparo diferentes e fazer um apanhado. Na maior parte das vezes simplesmente faço com o que tem disponível, para evitar que algo se estrague.

Terra: Queria entender um pouco melhor a divisão dos capítulos “Os brutos também comem”, “Quero minha mãe”, “Sacode a poeira” e o “Sol há de brilhar mais uma vez”, que reúnem as receitas.

P.A.:

No primeiro, pensei nos pratos mais pesados, que muitas vezes são os favoritos de quem acorda de ressaca, precisa repor a energia. Achei que era legal ter um capítulo com receitas mais junk, pesadonas. Tortilha, macarrão com presunto de parma. No “Quero minha mãe”, foram receitas que a gente chama de “confort food”, que eu costumo usar “receitas que te abraçam”. Você acorda de ressaca, está envergonhado, em uma situação física e mental bastante complicada, então quer receitas nessa onda confort food, como batata assada no forno, caldinho de feijão ou espaguete ao molho de tomate.

No “Sacode a poeira”, busquei fazer receitas muito simples. Achei que eu precisava reunir os ingredientes curadores de ressaca, mas que fossem pratos muito rápidos. O bife a cavalo, por exemplo, que é um bife com ovo frito. Mesmo naquele estado de confusão mental é possível reunir forças para fazer algum tipo de ajuda alimentar.

No “Sol há de brilhar mais uma vez” eu quis mostrar que nem toda comida de ressaca precisa ser casca grossa, “raçuda”. Tentei botar sucos, saladas, pratos que são um pouco mais tranquilos. Tem muita gente que não aguenta comer rabada. Então tem suco de abacaxi com mel e clorofila, gazpacho, sopa fria de pepino.

Terra: Você fica de ressaca muitas vezes por semana?

P.A.:

Eu não sei avaliar se muito ou pouco, mas em média uma vez a cada 15 dias acordo de ressaca (rindo). Gosto de beber e bebo de três a quatro vezes por semana. Mas entre beber e ficar de ressaca existe uma diferença bem grande.

Terra: O que você gosta de beber?

P.A.:

Cerveja, uísque, vinho, vodca. Gosto de beber e acho um esporte muito agradável, mas felizmente não é toda vez que eu bebo que eu fico de ressaca. Aos poucos você vai colecionando receitas, métodos e mandingas.

Terra: Qual é a pior parte da ressaca?

P.A.:

Eu acho que é a dificuldade física. Eu pelo menos tenho um pezinho na hiperatividade, já acordo querendo fazer coisas, e quando tenho ressaca violenta é o que mais me incomoda.

Terra: Entre todos os pratos e alimentos que você sugeriu no livro, quais são as melhores alternativas para curar a sua ressaca?

P.A.:

Eu gosto de preparar as massas, omelete, suco de tomate. Vou sempre no mais prático e no mais rápido. Agora para comer fora gosto mesmo é das coisas mais “pancadonas”, tipo rabada, feijoada, sanduíche de filé com queijo.

Terra: Você também sugeriu a cerveja como um método antirressaca. Isso funciona mesmo? Funcionou para você?

P.A.:

Depende, tem dias que realmente funciona, mas tem dias que você tem aversão ao álcool. Vai depender da ressaca, existem maiores e menores. A ressaca que é ajudada pela cerveja é uma ressaca um pouco mais leve, quando você só acorda com aquela dorzinha de cabeça.

Terra: E qual seria a explicação lógica para isso?

P.A.:

Para esse capítulo pedi ajuda de uma nutricionista e entendi que a ressaca, além de ter efeito físicos muito nítidos, como a desidratação, ela também tem a questão psicológica. E você passa a ter uma crise de abstinência depois de tantas horas ingerindo álcool, o seu corpo pede aquilo depois de muitas horas. Ou seja, a cerveja ajuda a recuperar aquilo que você está sentido falta e traz a uma “minieurofia”. É aquela velha frase: “evite a ressaca, mantenha-se bêbado” (rindo). Mas não estou dizendo que é algo saudável, não estou dizendo para fazer isso.

Terra: Qual foi a pior ressaca da sua vida? E como você a curou?

P.A.:

Eu acho que as piores foram quando eu era mais moleque, porque eu não sabia lidar com elas. Uma vez organizei um churrasco de fim de ano no colégio e na noite anterior eu enchi a cara com os amigos. No dia seguinte passei o dia todo dentro de casa, ninguém acreditava. Eu mal conseguia levantar da cama. Mas a experiência vai te trazendo a noção de que a ressaca é algo possível de ser ultrapassado e tem que lidar com ela de uma forma natural. Vivendo e aprendendo, bebendo e aprendendo neste caso. (rindo)

Terra: Como colheu esses depoimentos com atores e personalidades ao longo do livro? São pessoas próximas ou você foi reunindo ao longo dos seus trabalhos como documentarista?

P.A.: Pedi ajuda aos amigos que eu sabia que se interessavam pelo esporte, que gostam de beber (rindo). Mas não tem nenhum alcoólatra. Queria trazer ainda mais humor para um livro que é totalmente despretensioso, não tem a menor intenção de ser um tratado cientifico, é uma brincadeira. Fui pedindo ajuda para os meus amigos, me aproximei do Sócrates, por exemplo,  por conta de um filme que estou fazendo; fiz no ano retrasado um filme com o Malvino [Salvador], o Zé (José de Abreu) e o Waltinho (Walter Carvalho) são bons amigos. Mas a maior parte das receitas são de amigos anônimos, mas que são grandes amigos.

Terra: Você já curou muita ressaca de amigo com seus pratos? Tem alguma história engraçada neste sentido?

P.A.: Me lembro que por conta dessa rodada final de receitas e fotos para o livro a gente se reunia em um ateliê de uma amiga que tem uma cozinha maneira e passava o dia inteiro cozinhando. Fizemos isso em um sábado e domingo e a maior parte das pessoas que estavam ali estavam de fato de ressaca. Então foi engraçado porque foi uma forma de testar.

Terra: A ressaca geralmente vem acompanhada de um sentimento de culpa, aquela coisa do “nunca mais vou repetir isso”. Você tem algum segredo para curar essa ressaca?

P.A.:

Eu não sei se tenho uma receita. Eu aceitei que gosto de beber e volta e meia vou ficar de ressaca. A melhor maneira de lidar com isso é aceitar. Tem um contrapeso, é uma consequência das alegrias que o álcool te dá, então o negocio é combater de uma forma agradável. Porque eu não posso planejar uma comida boa no dia seguinte? Agora claro, se você tiver feito alguma coisa que se arrepende, estava no meio da pista, sem camisa dançando e fazendo coisas tenebrosas, é melhor não sair e avisar os amigos que vai passar férias na Sibéria. (rindo)

Guia Ressaca

Fonte: Terra
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