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Energia nuclear torna-se arma contra fraude e contaminação de alimentos

18 fev 2015 - 09h59
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Raios gama são usados para esterilizar batatas e isótopos para comprovar se um suco está adulterado. Embora possa parecer estranho relacionar energia nuclear com segurança alimentar, a ONU desenvolve e recomenda essas técnicas como forma de evitar fraudes e garantir que um produto não está contaminado.

"Quando o público em geral escuta a palavra nuclear, pensa em Fukushima, em Chernobyl. Mas as pessoas não deveriam ter medo", garantiu Carl Blackburn, especialista em irradiação de alimentos.

Blackburn trabalha em Viena, na Áustria, para o programa conjunto desenvolvido pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) que busca usar a energia nuclear para trazer melhorias à agricultura e à comida.

O especialista garante que as técnicas nucleares não são perigosas e servem para dar mais segurança sobre o que comemos, além de evitar fraudes.

"As técnicas servem para saber se uma laranja realmente veio da Espanha e também se um suco de laranja é realmente 100% suco de laranja", explicou.

Isso é possível graças à análise dos isótopos estáveis, as variações naturais e não radioativas de um mesmo elemento químico e cuja proporção varia dependendo da região do planeta.

Essas diferenças ficam impregnadas na comida em uma marca que pode ser acompanhada com o uso de um espectrômetro de massas para identificar a origem de um produto.

A análise também permite saber se um produto foi adulterado. Por exemplo, é possível descobrir se um mel recebeu a adição de açúcares baratos.

"Também é importante do ponto de vista econômico, porque há países e produtores que investem na produção de comida de uma determinada maneira para ter uma marca de qualidade", disse Blackburn.

A Organização Mundial de Aduanas calcula que a fraude com alimentos cause danos no valor de US$ 49 bilhões a cada ano. As técnicas nucleares também permitem detectar níveis excessivos de antibióticos e pesticidas nos alimentos.

Outros métodos com os quais a AIEA e a FAO trabalham são irradiação de alimentos com raios gama, raios X e feixes de elétrons, que acabam com bactérias e outros microorganismos e prolongam a duração dos alimentos.

Blackburn explicou que irradiar os alimentos não significa submetê-los à radioatividade e comparou essa técnica com a da pasteurização usa no leite.

A irradiação costuma ser usada para tratar a comida de pacientes de hospitais que tenham problemas imunológicos e precisem que a comida esteja bastante esterilizada.

O procedimento pode ser aplicado a frutas, verduras, carnes, peixes e alimentos pré-cozinhados, inclusive quando já estão lacrados, o que evita precisar manipulá-los novamente e que haja riscos de contaminação.

Embora a União Europeia (UE) permita comercializar comida irradiada, sempre que no rótulo se informe que o produto foi tratado com esse método, seu consumo não é generalizado.

"É uma questão de percepção. Quando falamos de irradiação, o problema é o medo à reação do público. Nenhum supermercado quer ser o primeiro", analisou Blackburn.

A aplicação da energia nuclear à segurança alimentar é, em geral, pouco disseminada. Andrew Cannavan, chefe do Laboratório de Proteção dos Alimentos e do Meio Ambiente da AIEA, explica que, além das reservas do público, grande parte da indústria não está muito ciente da existência destas técnicas.

No entanto, muitos países já mostraram interesse em receber tecnologia da AIEA que os ajude a utilizar sistemas de controle de segurança alimentar.

"O uso de algumas dessas técnicas será regra nos próximos dez anos e haverá avanços nos procedimentos para torná-los mais baratos, aplicáveis e sensíveis", disse Cannavan, cujo laboratório fica em no município de Seibersdorf, perto de Viena.

O especialista afirma que essas técnicas teriam sido úteis em escândalos recentes, como o da venda de carne de cavalo na Europa e a presença de melamina em leites comercializados na China.

Sobre a relação entre a aplicação das técnicas e um suposto aumento no preço dos produtos, tanto Cannavan como Blackburn consideraram que com a tecnologia será possível rentabilizar mais a produção, dar mais garantias sobre a qualidade do produto e economizar na luta contra as fraudes.

"O consumidor recebe um produto melhor e mais autêntico sem custos adicionais", defende Cannavan.

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